Olá novamente, queridos leitores! O ‘tão esperado’ mês mais longo do ano chegou e por fim, nós também voltamos, com mais um assunto importantíssimo para trazer em pauta. Mas antes, espero que todos estejam bem, em casa e se cuidando, afinal a pandemia não acabou, hein? Se cuidem!

Sem mais delongas, aproveitando o ensejo da chegada do mês de agosto, o assunto do nosso bate-papo e reflexão de hoje, não poderia ser outro, senão o combate à violência contra a mulher. Diante disto, o primeiro questionamento que venho lhes fazer é: por que nós, mulheres, continuamos sendo assassinadas?

Não é uma pergunta fácil de responder, no entanto, a minha reflexão hoje parte daí.

NÃO É DE HOJE

Historicamente, a vida das mulheres sempre foi acometida por constantes lutas contra a opressão. Nossa trajetória é marcada por diversos tipos de constrangimentos familiares e sociais. Somos humilhadas, menosprezadas e constantemente utilizadas como forma de prazer para os homens.

Após a instalação do patriarcado – sistema de dominação do homem – há cinco mil anos – a mulher adquiriu o status de mercadoria, podendo ser comprada, vendida ou trocada. Nesse sistema, as mulheres são consideradas inferiores aos homens e, consequentemente, subordinadas à sua dominação. A ideologia patriarcal dividiu a humanidade em duas metades, acarretando desastrosas consequências até os dias atuais.

Na Idade Média, o marido tinha o direito e o dever de punir a esposa e de espancá-la para impedir “mau comportamento”, ou para mostrar-lhe que era superior a ela. Contanto que não fossem quebrados ossos ou a fisionomia da esposa não ficasse seriamente prejudicada, estava tudo certo.

O espancamento legal das esposas não desapareceu com a Idade Média. Foi praticado em muitos lugares no século 19 e, mesmo depois, quando passou a ser proibido por lei, continuou a existir entre todas as classes sociais.

LUTA DIÁRIA

Os direitos conquistados pelas mulheres são resultado de muitos anos de luta. O século 20 é marco do início da participação efetiva das mulheres na sociedade. Simone De Beauvoir publica, em 1949, O Segundo Sexo, obra seminal do movimento feminista, que começa efetivamente em 1966, nos EUA, com a Organização Nacional das Mulheres. O movimento feminista foi fundamental para a liberação da mulher e suas conquistas na sociedade, essa luta deve continuar.

Entretanto, mesmo com a batalha diária por direitos e os avanços adquiridos com muita determinação e luta, nós mulheres ainda somos vítimas de agressões diariamente. No Brasil, os índices de violência contra a mulher são assustadores. A cada quatro horas, uma mulher é assassinada antes de completar 30 anos. Dos 4.762 feminicídios registrados em 2013, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo a maioria desses crimes (33,2%) cometidos por parceiros ou ex-parceiros.

Segundo a última pesquisa DataSenado sobre violência doméstica e familiar (2015), uma em cada cinco mulheres já foi espancada pelo marido, companheiro, namorado ou ex. O 13ª Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em setembro do ano passado, registrou recorde da violência sexual. Foram 66 mil vítimas de estupro no Brasil em 2018, maior índice desde que o estudo começou a ser feito em 2007.

A maioria das vítimas (53,8%) foram meninas de até 13 anos. Conforme a estatística, apurada em microdados das secretarias de Segurança Pública de todos os estados e do Distrito Federal, quatro meninas até essa idade são estupradas por hora no país. Ocorrem em média 180 estupros por dia no Brasil, 4,1% acima do verificado em 2017 pelo anuário.

ISOLAMENTO SOCIAL VIRA CÁRCERE PRIVADO

Sabendo que a maioria dos casos de agressão advém de familiares, parceiros ou ex-parceiros, torna-se ainda mais preocupante a situação atual das mulheres em isolamento social devido a pandemia da Covid-19.

A OMS alertou sobre o aumento da violência doméstica na pandemia da Covid-19. A Itália, por exemplo, que iniciou o isolamento social mais cedo do que o Brasil, registrou um aumento de 161,71% nas denúncias telefônicas entre os dias 1º e 18 de abril, de acordo com o Ministério da Família e da Igualdade de Oportunidades. 

No Brasil, o número de denúncias feitas ao Ligue 180 aumentou 34% entre março e abril deste ano em relação a 2019, segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Ao comparar apenas o mês de abril, o crescimento é de 36% entre os dois anos.

No entanto, regredimos ainda mais, desde 2015 os programas de proteção à mulher vêm sofrendo um desmonte. O orçamento da Secretaria da Mulher, órgão do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, foi reduzido de R$ 119 milhões para R$ 5,3 milhões, de acordo com levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo. Entre esses anos, os pagamentos para atendimento às mulheres em situação de violência diminuíram de R$ 34,7 milhões para apenas R$ 194,7 mil.

MULHERES, MÃES, FILHAS E PARCEIRAS

Após refletirmos juntos sobre um pouco da nossa história, carregada de violência, opressão e “não-proteção” para com as mulheres, retorno com uma nova questão: o que você pode fazer para que parem de nos matar?

Confesso que agora, desejo muito que surjam várias respostas, dúvidas e questionamentos próprios sobre essa violência que nos oprime há milênios. Entendo que essa luta não deve ser somente nossa, no entanto, para aprender sobre as opressões e violência de gênero que afligem a todas as mulheres, aí vai o meu conselho: ouçam e vejam mulheres. A violência a que somos impostas, por muitas vezes nos fará perder a voz, o fôlego e até a vida. Mas você pode ajudar, não fique parado, estude, defenda, respeite, ame e proteja as nossas vidas.

Ligue 180 e denuncie.